- Alô, cotovia! Aonde voaste, Por onde andaste, Que saudades me deixaste? - Andei onde deu o vento. Onde foi meu pensamento. Em sítios, que nunca viste, De um país que não existe . . . Voltei, te trouxe a alegria. - Muito contas, cotovia! E que outras terras distantes Visitaste? Dize ao triste. - Líbia ardente, Cítia fria, Europa, França, Bahia . . . - E esqueceste Pernambuco, Distraída? - Voei ao Recife, no Cais Pousei na Rua da Aurora. - Aurora da minha vida Que os anos não trazem mais! - Os anos não, nem os dias, Que isso cabe às cotovias. Meu bico é bem pequenino Para o bem que é deste mundo: Se enche com uma gota de água. Mas sei torcer o destino, Sei no espaço de um segundo Limpar o pesar mais fundo. Voei ao Recife, e dos longes Das distâncias, aonde alcança Só a asa da cotovia, - Do mais remoto e perempto Dos teus dias de criança Te trouxe a extinta esperança, Trouxe a perdida alegria. Manuel Bandeira Para o Carlos do Almofariz ...Bem-vindo!
Passa uma borboleta por diante de mim e pela primeira vez no Universo eu reparo que as borboletas não têm cor nem movimento, assim como as flores não têm perfume nem cor. A cor é que tem cor nas asas da borboleta, no movimento da borboleta o movimento é que se move, o perfume é que tem perfume no perfume da flor. A borboleta é apenas borboleta e a flor é apenas flor. Alberto Caeiro