Quem me quiser há-de saber as conchas a cantigas dos búzios e do mar. Quem me quiser há-de saber as ondas e a verde tentação de naufragar. Quem me quiser há-de saber as fontes, a laranjeira em flor, a cor do feno, à saudade lilás que há nos poentes, o cheiro de maçãs que há no inverno. Quem me quiser há-de saber a chuva que põe colares de pérolas nos ombros há-de saber os beijos e as uvas há-de saber as asas e os pombos. Quem me quiser há-de saber os medos que passam nos abismos infinitos a nudez clamorosa dos meus dedos o salmo penitente dos meus gritos. Quem me quiser há-de saber a espuma em que sou turbilhão, subitamente - Ou então não saber a coisa nenhuma e embalar-me ao peito, simplesmente. Rosa Lobato de Faria ilustração de Taia Morley
Passa uma borboleta por diante de mim e pela primeira vez no Universo eu reparo que as borboletas não têm cor nem movimento, assim como as flores não têm perfume nem cor. A cor é que tem cor nas asas da borboleta, no movimento da borboleta o movimento é que se move, o perfume é que tem perfume no perfume da flor. A borboleta é apenas borboleta e a flor é apenas flor. Alberto Caeiro