Avançar para o conteúdo principal

Outra Margem

E com um búzio nos olhos claros
Vinham do cais, da outra margem
Vinham do campo e da cidade
Qual a canção? Qual a viagem?

Vinham p'ra escola. Que desejavam?
De face suja, iluminada?
Traziam sonhos e pesadelos.
Eram a noite e a madrugada.

Vinham sozinhos com o seu destino.
Ali chegavam. Ali estavam.
Eram já velhos? Eram meninos?
Vinham p'ra escola. O que esperavam?

Vinham de longe. Vinham sozinhos.
Lá da planície. Lá da cidade.
Das casas pobres. Dos bairros tristes.
Vinham p'ra escola: a novidade

E com uma estrela na mão direita
E olhos grandes e voz macia
Ali chegavam para aprender
O sonho a vida a poesia

Vinham de longe. Vinham sozinhos.
Lá da planície. Lá da cidade.
Ali chegavam para aprender
O sonho a vida a poesia


Matilde Rosa Araújo
(poema musicado e interpretado pelos Trovante, retirado do blog Poesia distribuída na rua. )

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A arca de Noé

Sete em cores, de repente O arco-íris se desata Na água límpida e contente Do ribeirinho da mata. O sol, ao véu transparente Da chuva de ouro e de prata Resplandece resplendente No céu, no chão, na cascata. E abre-se a porta da Arca De par em par: surgem francas A alegria e as barbas brancas Do prudente patriarca Noé, o inventor da uva E que, por justo e temente Jeová, clementemente Salvou da praga da chuva. Tão verde se alteia a serra Pelas planuras vizinhas Que diz Noé: "Boa terra Para plantar minhas vinhas!" E sai levando a família A ver; enquanto, em bonança Colorida maravilha Brilha o arco da aliança. Ora vai, na porta aberta De repente, vacilante Surge lenta, longa e incerta Uma tromba de elefante. E logo após, no buraco De uma janela, aparece Uma cara de macaco Que espia e desaparece. Enquanto, entre as altas vigas Das janelinhas do sótão Duas girafas amigas De fora as cabeças botam. Grita uma arara, e se escuta De dentro um miado e um zurro Late um cachorro em disputa

Hai-Kai de Outono

Uma borboleta amarela? ou uma folha seca Que se desprendeu e não quis pousar? Mário Quintana

A alfazema

- Fecha os olhos bem fechados, e diz-me a que é que cheira. Cheira a rosa, cheira a nardo, ou a flor de laranjeira? - Nem a rosa, nem a nardo, nem a cravos, nem a cravinas me cheira este poema. O que me chega às narinas é o cheiro da alfazema! Jorge Sousa Braga