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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2007

A vida

Na água do rio que procura o mar; No mar sem fim; na luz que nos encanta; Na montanha que aos ares se levanta; No céu sem raias que deslumbra o olhar; No astro maior, na mais humilde planta; Na voz do vento, no clarão solar; No inseto vil, no tronco secular, — A vida universal palpita e canta! Vive até, no seu sono, a pedra bruta . . . Tudo vive! E, alta noite, na mudez De tudo, — essa harmonia que se escuta Correndo os ares, na amplidão perdida, Essa música doce, é a voz, talvez, Da alma de tudo, celebrando a Vida! poema de Olavo Bilac ilustração "Swingstar" de Janice Fried

Dream Garden

Wang Yi Guang

As trepadeiras

Trepem, trepem trepadeiras! Trepem, trepem pelo ar! Que de plantas rasteiras, está a terra a abarrotar. Trepem, trepem trepadeiras! Trepem, trepem sem parar! E se o muro se acabar, trepem, trepem trepadeiras, por um raio de luar. Jorge Sousa Braga

Happy Friends

Betsy Everitt

Vai alta no céu a lua da Primavera

Vai alta no céu a lua da Primavera Penso em ti e dentro de mim estou completo. Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira, Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz. Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo, E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores. Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos, Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores, Isso será uma alegria e uma verdade para mim. Alberto Caeiro

Deixa a luz acesa

Deixa a luz acesa Para na volta me alumiar, Venho de longe no final do dia E depressa quero chegar Para te poder abraçar. Deixa a luz acesa Para o caminho me encontrar, Desço pelo rio Com a noite a cair E já te vejo a sorrir. Deixa a luz acesa Para seres o meu luar, Nestas águas cintilantes Navega o meu coração Até à beira da tua mão. Deixa a luz acesa Para o mundo sossegar, E ficaremos de mãos dadas Com as estrelas a brilhar Até de novo o sol raiar. Ana Isabel ilustração "Leave the light on" de Richard Johnson

The butterfly catchers

Richard Johnson

Quero um cavalo de várias cores

Quero um cavalo de várias cores, Quero-o depressa que vou partir. Esperam-me prados com tantas flores, Que só cavalos de várias cores Podem servir. Quero uma sela feita de restos Dalguma nuvem que ande no céu. Quero-a evasiva - nimbos e cerros - Sobre os valados, sobre os aterros, Que o mundo é meu. Quero que as rédeas façam prodígios: Voa, cavalo, galopa mais, Trepa às camadas do céu sem fundo, Rumo àquele ponto, exterior ao mundo, Para onde tendem as catedrais. Deixem que eu parta, agora, já, Antes que murchem todas as flores. Tenho a loucura, sei o caminho, Mas como posso partir sózinho Sem um cavalo de várias cores? poema de Reinaldo Ferreira pintura "Flower Beds in Holland" de Vincent Van Gogh
Calvin & Hobbes 2 Público online - Tradução de Helena Gubernatis

Até à Costa Malabar

Vem-me de longe um eco que é de mar e é de brisa. Vem de um veleiro sueco a navegar em seco enquanto, na camisa, eu desenho a passarola que me há-de transportar, numa padiola, até à Costa Malabar, onde só há veleiros com velas de sonhar. poema de Luís Infante ilustração "Sailboat" de Melanie J. Hodge

O beijo

Karla Gudeon

Amor é um fogo que arde sem se ver

Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? Luís de Camões

As árvores e os livros

As árvores como os livros têm folhas e margens lisas ou recortadas, e capas (isto é copas) e capítulos de flores e letras de oiro nas lombadas. E são histórias de reis, histórias de fadas, as mais fantásticas aventuras, que se podem ler nas suas páginas no pecíolo, no limbo, nas nervuras. As florestas são imensas bibliotecas, e até há florestas especializadas, com faias, bétulas e um letreiro a dizer: «Floresta das zonas temperadas». É evidente que não podes plantar no teu quarto, plátanos ou azinheiras. Para começar a construir uma biblioteca, basta um vaso de sardinheiras. poema de Jorge Sousa Braga ilustração "Swan Garden" de Andrea Cobb

Devagar no jardim

Devagar no jardim a noite poisa E o bailado dos seus passos Liberta a minha alma dos seus laços, Como se de novo fosse criada cada coisa. poema de Sophia de Mello Breyner Andresen ilustração "June isolation" de Andrea Cobb

O Búzio

Pus um búzio da praia na concha do meu ouvido. Logo ouvi o mar chamar muito longe, num gemido. Ó mar, Ó mar... Peguei num búzio das águas, pousado ali na areia. Ele guardava a canção secreta duma sereia. Ó mar, Ó mar... É só um búzio das ondas, todos o julgam vazio. Mas eu viajo lá dentro num sonho feito navio. Ó mar, Ó mar... poema de Luísa Ducla Soares ilustração de Janice Fried
Calvin & Hobbes 1 Público online - Tradução de Helena Gubernatis
Carla Pott

A Amiga da China

Tangerina que tanges O Sol do meio-dia És cara de menina Com pintas de alegria. Teus gomos perfumados Tua pele tão fina Tangerina tão doce Que vieste da China Quando ia para a escola Teu perfume nas mãos Teu perfume no bibe Nos cadernos. No pão. Tu eras tão bonita! Eu era tão menina! Que saudades eu tenho Minha amiga da China! Matilde Rosa Araújo

Sete anos de pastor Jacob servia

Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, Que a ela só por prémio pretendia. Os dias na esperança de um só dia Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe deu Lia. Vendo o triste pastor que com enganos Assim lhe era negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida; Começou a servir outros sete anos, Dizendo: − Mais servira, senão fora Para tão longo amor tão curta a vida. soneto de Luís de Camões ilustração "Love" de Janice Fried
Janice Fried

Flute Kids

Teresa Flavin

Quando as crianças brincam

Quando as crianças brincam E eu as oiço brincar, Qualquer coisa em minha alma Começa a se alegrar. E toda aquela infância Que não tive me vem, Numa onda de alegria Que não foi de ninguém. Se quem fui é enigma, E quem serei visão, Quem sou ao menos sinta Isto no coração. Fernando Pessoa

As meninas

Arabela abria a janela. Carolina erguia a cortina. E Maria olhava e sorria: "Bom dia!" Arabela foi sempre a mais bela. Carolina a mais sábia menina. E Maria Apenas sorria: "Bom dia!" Pensaremos em cada menina que vivia naquela janela; uma que se chamava Arabela, outra que se chamou Carolina. Mas a nossa profunda saudade é Maria, Maria, Maria, que dizia com voz de amizade: "Bom dia!" poema de Cecília Meireles pintura de Karla Gudeon

Poema com asas

Asas têm As garças As andorinhas Os tira-olhos As traças E as joaninhas E também O tentilhão A narceja A toutinegra E o tecelão Asas têm O gavião O peneireiro E o açor E já agora Os anjos O avião E o planador E também Os nandus A avestruz E a pintada Mas não Lhes servem Para nada O morcego Não tem asas Tem uma Membrana alar Asas tem Este poema Para te fazer Voar poema de Jorge Sousa Braga ilustração de Cristina Valadas
Sun Xiao Li